quarta-feira, março 04, 2009

Campo de Memórias

Esta semana passeei pelo campo da minha memória. No seu recanto mais remoto era um campo de futebol onde, uma vez por ano, se realizada a feira da fruta. Nessa altura, ganhava vida para além dos jogos de fim-de-semana nos quais os jovens rapazes da aldeia se divertiam. Vários stands de fruta dos agricultores do concelho apresentavam os seus produtos e concorriam com a sua melhor fruta para os prémios em concurso. Ainda me lembro de, numa dessas feiras, ver um tomate quase do tamanho de uma melancia. Quanto maiores e desporpocionais fossem os tamanhos das frutas ou vegetais maior a probabilidade de se ganhar o primeiro prémio.
A grandiosidade e popularidade da feira aumentava de ano para ano. E em cada ano, mais visitantes vinham de todos os cantos do nosso distrito. E em cada ano mais agricultores reclamavam o seu stand para mostrar os seus produtos. Começaram também a existir barraquinhas de artesanado, barraquinhas com diversões, barraquinhas de pipocas e algodão-doce e até construíram um palco para as bandas de rock e grupos de folcore animarem a malta.
O orgulho desta pequena aldeia era visível. Cada vez mais pessoas a reconheciam no grande mapa que é Portugal. E cada vez mais pessoas da aldeia se voluntariavam para ajudar na sua organização, como foi o caso da minha mãe, que não só passou a fazer parte do seu staff mas que, quando chegou a altura de construír a sua casa, o fez no terreno junto ao local onde anualmente se realizada a feira. Dizia ela, assim não preciso andar muito para ir às festas, é só saír de casa e entrar na feira. O que ela desconhecia é que passado dois ou três anos a festa acabaria.
A festa acabou. As pessoas desapareceram. A fruta está para sempre fora de época. Já não há pomares de maçã nem pomares de pêras nem vinhas. Os terrenos povoados de fruta deram lugar a pinhais ou eucaliptais ou simplesmente estão abandonados. Abandonados como a aldeia, como o campo.
Os jovens cresceram. Tornaram-se adultos mas não como os seus pais. Eu sou uma dessas jovens que tal como tantos outros virou as costas à tradição agrícola da nossa aldeia. Muitos de nós fomos estudar para outras terras e por lá ficou na sua vidinha. Os que da minha geração ainda vivem aqui dedicaram-se a outras actividades. E os mais novos não têm memórias desses tempos.
O campo de futebol que anualmente ganhava vida com fruta e música, agora está ao abandono. Lembra-me aquelas aldeias norte-americanas de cowboys abandonadas, percorridas por ragadas de vento, que vemos nos filmes.
Não tenho moral para dar lições de moral. Só tenho saudades do que já foi a minha aldeia.










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1 Comentários:

Às 18 março, 2009 11:24 , Blogger Maria Brito disse...

este fim de semana vou passar pelo campo da minha memória: o porto. será que nos vemos? beijo

 

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