sexta-feira, março 31, 2006

O amor é para os parvos


Na contracapa lê-se:



Dois corpos não carecem de mais do que da fugidia linguagem dos sussurros, dos beijos que eriçam a pele, dos arquejos que preparam a doce deflagração de um amplexo. Mas será só isto o amor? Ou antes, na sua plenitude, o acto meio inconsciente que leva a caminhar às cegas no arame estendido sobre o precipício? Pode a convivência quotidiana - monótona - entre um homem e uma mulher ser confundida com o verdadeiro amor?
Numa solitária viagem ao passado, conversando com o espectro de uma mulher que continua a habitar o seu quarto, um homem revisita as memórias de uma antiga paixão, tornada impossível pelas próprias contradições que o amor encerra e pelos estranhos labirintos que a loucura do narrador arquitecta.
Um monólogo íntimo e, às vezes, perturbador, onde se fala também do peso das palavras, dos laços que é necessário quebrar para que a morte deixe de causar temor e do momento de libertação que se esconde por trás do acto de suicídio.


EXCERTOS:



Não tenho medo da morte.É um ponto final e acabou-se. Deixa de haver antes e não haverá depois. Passamos a ser uma coisa - morta, inanimada, inútil como um móvel velho que não guarda mais do que memórias que não interessam a ningém; um arquivo escrito num código indecifrável e que, por isso, não vale a pena ser remexido. Tudo o que fomos, vimos, ouvimos e vivemos morre connosco; a morte fecha as gavetas todas e atira a chave ao rio. É isto. Para quê dramatizar o que não tem drama?

O amor é aquilo: caminhar às cegas no arame estendido sobre o precipício.

Lembras-te de te ter dito que não há outro modo de gostar que não seja este, desabrido, e que não acredito que ao resto se possa chamar amor? Que só ama quem gosta à maneira antiga, fora de moda; os que escrevem cartas, os que cultivam olheiras, os que sofrem loucamente e são capazes de morrer de amor.

A minha anatomia enlouqueceu; sou todo coração.

(...) não permiti nunca que as emoções me arrebatassem e lamento-o de um modo que não poderás nunca imaginar, pois é mais que um lamento - é uma melancolia que me toma o corpo todo e que me deixa, às vezes, sem vontade própria, saudoso daquilo que não fui, suspirando pelo que podia ter sido e pelo que havíamos de ter sido nós dois se não sucedesse teres marrado com um sujeito amputado da parte da alma que comanda os arrebatamentos.

(...) esse alguém não era eu, mas aquele que tu querias que eu fosse e que eu não estava disponível para ser. Não me apetecia estar subjugado por uma imagem que não era a minha ou sequer fazer um esforço para me adequar às regras que me querias impor.

A morte é o que nos resgata à dor, o que nos redime de todos os males. É o derradeiro bálsamo, a anestesia final, o copo que enfim transborda.




um livro do escritor e jornalista portuense Manuel Jorge Marmelo
Editora Campo das Letras
Preço de Mercado : €11.52

1 Comentários:

Às 10 setembro, 2006 22:22 , Anonymous Anónimo disse...

adorei esse livro do manuel jorge marmelo...li-o há 6 anos, quando me separei de alguém...

e também estou a gostar muito do teu blog.
parabéns.


elis

 

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial