quarta-feira, fevereiro 22, 2006

O interesse da série...



A estação de televisão espanhola Telecinco criou uma série chamada Hospital Central que o canal axn exibe actualmente. A história, como se pode deduzir pelo título, é sobre o dia-a-dia num hospital - muito ao estilo da série Serviço de Urgência.

Do elenco duas personagens se destacam:

Esther García (interpretada por Fátima Baeza)

Uma jovem enfermeira que vê a sua vida revolucionada por uma série de acontecimentos.

Maca (interpretada por Patricia Vico)

Jovem pediatra de carácter forte e sensível.


Mais do que as palavras, as imagens a seguir esclarecem o interesse desta série ;)


O meu anjo...



IAH-HEL




O Anjo: Este anjo ajuda a obter sabedoria, auxilia no aparecimento de idéias luminosas e a apaziguar a violência do mundo. Favorece as pessoas para que vivam de modo correto e honesto.

Influência: Quem nasce sob esta influência amará a tranqüilidade, a nobreza de caráter e a solidez de atitudes. Cumprirá fielmente todos os deveres e obrigações para consigo, sua família e comunidade. Praticará vários esportes, podendo largar tudo caso comece a aborrecer-se; terá a mesma postura quando isso acontecer em relação ao amor. É evoluído espiritualmente e sabe aproveitar sua energia, para seu próprio crescimento e para o bem da humanidade. Pensa mais nos outros do que em si próprio. Desde criança demonstra segurança em seus atos e sabe controlar suas ansiedades. Líder nato, aceita os convites de comando que recebe por seu jeito forte, capacidade de improvisação e apreço aos desafios. Tático, busca sempre uma vitória imediata; ganha todas as batalhas. Será forte para suportar todas as situações que são adversas à sua estrutura emocional e sabe que o único meio para atingir seus objetivos, é a insistência. Luta por uma imagem digna, transparente e verdadeira. As pessoas novas que conhece nas inúmeras viagens de lazer ou trabalho, são consideradas "experiências" que sempre enriquecem seu mundo íntimo, cada dia mais repleto de luz. É um ótimo mestre, que obtém vitória por ser o que é - simplesmente amor.

Profissionalmente: Poderá ser um atleta, professor de ginástica ou de qualquer outro esporte, dono de academia. Por sua facilidade para o comando, se entrar para a política, provavelmente será líder de partido ou de governo. Poderá ainda ser administrador de empresas, empresário ou economista.

Anjo Contrário: Domina as condutas escandalosas, a depravação, a futilidade, o luxo (gastos imensos com jóias, roupas, muitas vezes sem condições financeiras). A pessoa sob a influência deste anjo contrário terá inconstância nos relacionamentos, interessando-se somente pelo dinheiro. Provocará intrigas contra casais, induzindo-os a brigas com maus conselhos.

O que é um Anjo Contrário?

Dizem que alguns anjos sentiram ciúmes de Deus e se rebelaram. Apaixonaram-se pelas filhas de Noé e como transgrediram as leis, foram condenados a ficar presos no mundo inferior (inferi), nesta força ativa, impensada, de fogo.

O anjo contrário atua quando você não pensa, age por instinto. São os animais que agem por instinto. A besta representa a ausência de raciocínio, a preguiça. Diabo - Dividido: Confusão.

A intenção do anjo contrário é destruir seu lado forte, deixando-o fraco e tornando mais fácil a sua ação. Um exemplo da ação do anjo contrário, é quando você vai falar alguma coisa para alguém e fala outra muito diferente. Você tem certeza que está sob a ação do anjo contrário, quando algo acontece na família e você começa a fazer julgamentos e a brigar sem compreender. Lembre-se: Deus não julga.

Adão é representado por uma árvore (da vida), cujo tronco representa a humanidade, os galhos as raças e as folhas os indivíduos. Os maus são as folhas secas, ressentidas e invejosas que caem, transformando-se em adubo e fortificando a árvore, que assim fornecerá frutos mais bonitos e saborosos. Os cabalistas hebreus chamavam os anjos contrários de "cascas". Da mesma forma que a casca grosseira de uma árvore, mesmo tornando-a feia, protege-a contra pragas e intempéries preservando sua seiva, a energia do anjo contrário pode ser revertida em seu benefício, se você pensar, raciocinar, isto é, estiver perto de Deus.

Alguns seres humanos quando perdem o corpo (a matéria), não se despojam da vibração energética do instinto, ficando presos no mundo inferior, até que uma "batalha" espírito/alma/inteligência, consiga a elevação, orientada pelo anjo de guarda.

Certa vez num debate, me perguntaram se o anjo de guarda poderia nos abandonar. Respondi afirmativamente e alguns discordaram da minha colocação. Mas pense, o anjo de guarda não poderia estar ao lado do assassino de uma criança, ou de um seqüestrador, ele estaria compactuando com essas ações horríveis.

Texto extraído dos livros Anjos Cabalísticos e A magia dos anjos cabalísticos de Monica Buonfiglio




Qual é o teu anjo?

terça-feira, fevereiro 21, 2006

Um cheirinho de Manuela Amaral



AUTO DE FÉ

Não me arrependo dos amores que tive
dos corpos de mulher por quem passei
a todos fui fiel
a todos eu amei

Não me arrependo dos dias e das noites
em que o meu corpo herói ganhou batalhas
A um palmo do umbigo eu fui primeira
a divina
a deusa

a verdadeira mulher – sem rival.

Amei tantas mulheres de que nem sei o nome
eu só me lembro apenas
de abraços
de pernas
de beijos
e orgasmos

E no amor que dei
e no Amor que tive
eu fui toda mulher – fui vertical

Eu fui mulher em espanto
fui mulher em espasmo
fui o canto proibido e solitário

Só tenho um itinerário: Amor-Mulher.


SEXO-CAMA

Fui ordinária
requintada
tímida
Misturei poesia com vários palavrões
Gritei
Uivei
Gemi
Rasguei almofadas e lençóis

Fui carnaval de amor
no circo de uma cama.



O ESPIRÍTO DO SEXO


Hoje acordei debaixo de mim

e senti o orgasmo do mundo
no corpo dos outros.

TEU CORPO DE AGOSTO

Teu corpo é agosto

Tu cheiras a verão
por baixo das veias

Tu cheiras a quente

Tu cheiras à febre
do sangue maduro

Teu ventre de orgia
teu cheiro a sodoma
aroma-mulher

Teu corpo de agosto
tem cheiro a setembro

NO CONJUGAR AMOR


Descobrimos coisas
que ninguém mais sabe

Coisas diversas do saber comum.

A transfusão que existe no beijar
quando a ternura é líquida

E a transparência
opaca
do suor
quando o amor é feito

E o jeito que nos fica
de namorar o corpo

E o exagero em tudo que se diz
nas juras repetidas

Descobrimos coisas
que ninguém mais sabe
e que aprendemos juntas.



GRITO ERÓTICO

Caluniaste o meu corpo
ao longo dos teus gestos
sem medida

Desde a palavra exacta
do meu sexo
e soletraste-me puta

Puta
Puta

Angustiosamente erótica
abri-me em coxas
e penetrei-te na minha fauna aquática
Grito marinho
a escorrer nas algas
do meu ventre

Puta
Puta.

É URGENTE QUE AS PESSOAS SE AMEM


É urgente que as pessoas se amem
sem vergonha e sem tristeza
Que se amem com orgulho
Com a alegria pagã da joie grega


É urgente que as pessoas não se escondam
por detrás das outras pessoas
das idéias das outras pessoas
dos muros espessos do medo


É urgente que as pessoas se amem


É urgente partilhar o pão e o corpo
com a claridade da terra molhada
nas manhãs de sol


É urgente assumir a verdade

PEREGRINAÇÃO


Venho de longes mundos
Separam-me distâncias
Trago as madrugadas no meu ventre
E a liberdade das coisas inventadas
num mundo abstraído
em tempo.



POEMA DO AMANHÃ

Num esforço de amanhã hei-de nascer
e dizer aos homens de hoje quem eu sou.

DEUS REINCARNADO


Tenho
um deus
só para mim
incarnado na loucura
da minha lucidez

REBELDIA


Soltem-me
as algemas


Quero
a minha alma livre
meu corpo livre
meu pensamento livre


Esbofetear o mundo
e cuspir
na vida



DESAFIO À MEDIOCRIDADE


Chamem-me
devassa
louca
ou depravada


A vida
não é nada


É preciso
ser tudo
num instante

SER TUDO NÃO BASTA


Não sou homem
nem mulher
nem lésbica
ou pederasta


Sou tudo


Mas ser tudo
não me basta

DESIGUAL


Sou bastarda do amor
Pago o preço da verdade



INSACIEDADE


A minha fome é de dentro
e a minha sede é palavra

PALAVRA POR DIZER


Só agora sou poeta
na poesia que não escrevo
Só agora me transmito
Só agora me transcrevo


Eu silabo no teu corpo
a palavra que não digo

DIZER AMOR



Queria subir às palavras
e gritá-las
E ter o privilégio de inventar
formas diferentes
de dizer amor

RECADO SEXUAL


Não gosto das mulheres
- Só gosto da Mulher


Não gosto do homem
- Só gosto dos Homens


E que cada um pense de mim o que quiser.

SAGRADO IMPROFANO


Nas ilhas mais remotas do teu corpo
fui encontrar o santo graal perdido



MULHER BASTANTE


Eu sei quem és porque em ti decubro
a mulher que foste em mim bastante

DO RITMO AO SEXO


Nasci das raízes do teu corpo
do ritmo acelerado do teu sexo
Nasci dos teus gestos de mulher
e desenhei-me em noite.

HOMO


Introduzi em ti
a força mental de um orgão qualquer


E foste quem sou
E foste mulher

MULHER-TU


Mulher rasgada
no meu sonho aberto


Mulher alerta
no meu estar em tudo.



MULHER (em definição)


Mulher-Poesia
que deixa no meu corpo bocados de poema


Mulher-Criança
que desce à minha infancia
e me traz adulta


Mulher-Inteira
repartida no meu ser


Mulher-Absoluta
fonte da minha origem

MOMENTO


Mulher tão deitada
de mim tão despida


Mulher resumida
em cama de noite

MARÉS VIVAS


Na praia teu corpo
eu sou maré cheia


Em ondas de medo
rebento-me azul


e bebo-te areia

MULHER MAIS


Mulher imensa
Vagina secular


Orgia
Bacanal
Gargalhada solta
em carnaval


Mulher sem direcção
direita ao espanto.

ANTAGONISMO


Foste parida de um deus

Tens os cornos de um diabo.



FATALISMO


Amo o que em ti há de trágico. De mau.

De sublime. Amo o crime escondido no teu andar.

A tua forma de olhar. O teu riso fingido

e cristalino.

Amo o veneno dos teus beijos. O teu hálito pagão.

A tua mão insegura

na mentira dos teus gestos.

Amo o teu corpo de maçã madura.

Amo o silêncio perpendicular do teu contacto

A fúria incontrolável da maré

nas ondas vaginais do teu orgasmo.

E esta tua ausência

Este não-ser quem é.

AMOR GEOMÉTRICO


Angulosamente ternas

goticamente nuas

somos a geometria do amor.

DO NASCER AO SER

Nasci-te. No meu ventre de mulher cresceu teu feto

e foi a minha boca que te deu palavras

e silêncios para tu gritares

Dos meus braços multipliquei teus braços

e dei distâncias para tu voares

Dei-te tempos-de-nada

medidos de coragem

E foste. E és.

TEU CORPO/MEU ESPAÇO


Teu corpo é raiz

rasgando a terra nua

do meu sexo

Teu corpo é vertical

onde os meus dedos tocam as distâncias

Teu corpo é diálogo sem palavras

O grito em ressonância

no meu espaço.



POSSE INTEMPORAL


Fazer amor contigo

não é espelhar teu corpo nu

no vítreo do meu espaço

não é sentir-me possuída

ou possuir-te

É ir buscar-te

ao abismo de milénios de existência

e trazer-te livre.

APOGEU


Mulher em minha cama

Mulher quase animal

Mulher que se transborda

que me sobra

e chega

Mulher deitada no meu corpo insónia.

MODELAGEM


Moldei meu corpo

à tua forma nua

e de nós duas

nasceram madrugadas

ACTO CRIADOR


Com gestos pagãos

dou forma-mulher

à tua estatura

e faço escultura

ao longo das mãos

Num golpe de mestre

renasço-te virgem

em obra criada

Já não és mulher

És só o fluido

que escorre de mim

ideia

vertigem

Depois uma fúria qualquer

começa a alastrar-se

em todo o teu corpo

Um vento selvagem

possui os teus braços

as pernas

o ventre

Um grito demente

percorre-te a voz

E és volúpia

o espaço

e a noite




DE NÓS EM LIMITE


Na luta da posse

meu corpo guerreiro

batalha no teu

Meus beijos em seta

percorrem a meta

atingem loucura

No espaço liberto

da minha procura

tu és o limite

MULHER DE MIM


Mulher secreta

direita ao meu encontro

Meu espasmo de infinito

Meu canto

quase grito

Mulher só-minha

inventada em espanto




HISTÓRIA SEM TITULO


Tu-em-mim

tantas vezes derramada

no orgasmo repetido

Eu-em-ti

tantas vezes já cremada

na fogueira do teu corpo.

CAMINHO ENCONTRADO


Razão e loucura

Abismo de mãos

E gestos em fúria

Palavras

Silêncios

E corpos suspensos

Nas bocas a febre

Nos olhos delirio

Regresso de noite

Caminho encontrado.




COREOGRAFIA


No palco da noite bailado de corpos

Cenário de sombras

esculpidas em nu

Tu danças as mãos

inscreves contornos

na minha nudez

Eu sou dimensão

que dança em teu espaço

Não temos cansaço

Só temos volúpia

Desejo

Harmonia

Vontade de luta

Ao longo de ti descubro caminhos. Trajecto de boca

E danço contigo

E esqueço a memória

Eu sou o teu sangue

A mesma saliva

O mesmo suor

Nós somos a mesma

Mulher-Repetida.

POEMA VERTICAL


Abrimos os corpos. Rasgámos silêncios.

Na mesma vertigem nós fomos o espaço

Nós fomos a sede

Nós fomos a fonte

Abrimos distâncias. E tudo inventámos.

A vida e a morte num gesto de febre

subiam em compasso

em tempo de espera

E a luta

E a raiva

Nas nossa artérias um sangue mais quente

e o teu movimento em ritmo louco

E a minha renuncia de não ser mais eu. De ser o teu corpo. De ser a tua

carne

Baloiço de membros

de pernas e braços

Mulher que eu embalo

que guardo em meu ventre

que bebe de mim

a quem eu me dou

de quem me alimento

Mulher incarnada

na minha loucura

Um grito. Uma pausa. Um gesto mais lento.

E a vida a esvair-se

num estertor da morte

Depois o cansaço no espasmo da noite

E nós renascidas

E livres no tempo.




PARA ALÉM DO AMOR

E muito mais importante do que o nosso orgasmo


é a ternura-depois

o ficarmos abraçadas

o não dizermos nada

o tomarmos um uisque

às cinco da manhã.

ORGULHO QUE ME DOI


Ah, este orgulho que a noite me devolve

A lingua forrada de palavras

e outros líquidos de amor

E a culpa do silêncio que me dás

na incerteza de qualquer verdade

De ti já pouco sei

De mim já me ignoro

Ah, este orgulho que a noite me devolve

e que me dói




AMOR DOENTE


Este amor nasceu do fim

Guardámos naftalina

a imunizar a paixão

Tu e eu

Ciprestes

Nossos corpos cemitérios

inventaram dois jardins

E pintámos de amarelo

um calor a fingir sol

Este amor nasceu no fim

Este amor nasceu doente

Este amor é consciente

é metódico

é razão

é equação que dá certa

Sabemos tudo de cor

O nome exacto das coisas

mas não temos descoberta

Este amor nasceu doente

Este amor nasceu do fim

(amor

amor

meu amor)

LEILÃO


Leiloámos o amor

na praça pública do corpo




DEPOIS-DEPOIS (sem mim)


Amanhã

quando acordares sem mim

talvez te sintas livre

feliz

independente

E depois-depois

na hora em que acordares

(sem mim)

eu estarei lá

sentada no parapeito do teu desespero

a sorrir cinicamente

e a dizer bom dia



sábado, fevereiro 18, 2006

Ana Hatherly




II - Canto-te


Canto-te para que tu definitivamente
existas
Canto o teu nome porque só as coisas cantadas
realmente são e só o nome pronunciado inicia
a mágica corrente
Canto o teu nome como o homem fazia eclodir
o fogo do atrito das pedras
Canto o teu nome como o feiticeiro invoca
a magia do remédio
Canto o teu nome como um animal uiva
de
Como os animais pequenos bebem nos regatos depois
das grandes feras
Canto-te
e tu definitivamente existes nos meus olhos
Sempre abertos porque é sempree os meus olhos
são os olhos da criança que nós somos sempre
diante da imensidão do teu espaço

Canto-te
e os meus olhos sempre abertos são a pergunta
instante pendente de eu te interrogar

e interrogo as coisas em seu ser noctumo
em seu estar sombriamente presentes na tua claridade
obscura
E como é sempre
meus olhos abertos prescrutam-te

símbolo de tudo o que me foge
como apertar o ar dentro das mãos
e querer agarrar-te

oh substância
Canto-te

com a fragilidade de tudo que existe perante
uma eternidade demasiado nocturna para os nossos
olhos infantis perante a tua antiguidade
futura
E a nossa voz é uma pequena onda no dorso
do teu oceano de matéria
Um leve arrepio apenas na espantosa espessura
de teu éter
Ah no ar é que tudo acontece
no ar nocturno das idades esquecidas
que previamente desconheceremos
No espaço é que tudo acontece
e o espaço é uma grande muito quieta
onde os nossos olhos penetram
no não sabermos até onde
ali
além
no além onde tudo acontece
Oh
oh espaço de tudo ser tão ligeiro e impalpável
e sermos nós a respiração da
teu bafo ritmado
imperceptível distância
Oh augusta majestática dignidade do silêncio
Oh impassibilidade da tua mecânica celeste
Oh organismo primeiro de todos os fins secretos
da compreensão das coisas
Oh inorgânico organismo dos seres
que se devoram
Oh diz
a quem servimos nós de pasto
Canto-te
como quem pronuncia o Mantra esotérico do teu nome
Canto-te e grito
para que a poeira que se infiltra em todas as
coisas se erga de ti como um plâncton
Oh Madre
matriz das criaturas inferiores que rastejam
a teus pés cobertas de pó
esse pó que a cada momento ameaça submergir-nos
Oh aranha enorme tecendo tua teia de pó
Oh que desintegras tudo e tudo tu constróis
Ah como nós lambemos tuas duras mãos
Oh que fustigas nossos olhos com tua sombra
Enorme
Oh
que deixas tanto espaço para o silêncio
das mil pétalas
dos mil braços esplendorosos em seu abandono
dos murmúrios
dos afagos
sangue derramado sobre o mundo
Oh
Porque és sempre tão premente?
e sempre estás ausentemente
na tua constância em todas as coisas?

Oh sono
Oh morte tão desejada e longa
mágica povoada de átomos
milhões de espíritos enchem o teu sopro
E penetras em nós como uma bala
E tudo morre quando tu chegas
E tudo se dilui e se transforma em ti
alada presciência de tudo acontecer
tão longe de nós e tão antigamente
e tudo nos ultrapassar com soberana indiferença
ante os nossos olhos cegos pelo teu negrume
Oh
brilha para dentro de mim
Acende teus luzeiros em meus olhos
Ergue teus braços oh prenhe de tudo
Oh vaso
Oh via láctea de nos amamentares com teu leite
de sombra
Oh úbere e pródiga
Aleita tua ninhada faminta
Grande fera luzidia
Grande mito
Grande deus antigo
Oh urna onde todos dormimos
Oh
Meus olhos choram já de tanto prescrutar-te
E canto-te
Canto-te
Para que tu existas
E eu não veja mais nada além de ti
E nada mais deseje senão que venhas outra vez
levar-me para dentro do teu ventre
de nunca mais haver
E nada mais haver que


Oh tu definitivamente além



Ana Hatherly
Poemas de Eros Frenético e Contemporâneos
um calculador de improbabilidades
Quimera
1ª edição 2001

BIOGRAFIA


Poeta, romancista, ensaísta e tradutora, Ana Hatherly iniciou a carreira literária em 1958.

Tendo sido um dos principais elementos do grupo de Poesia Experimental nos anos 60 e 70, o seu trabalho está representado nas mais importantes Antologias e Histórias da Literatura Contemporânea de Portugal, Brasil, Espanha, Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos, Dinamarca, Suécia, Holanda, e República Checa.

É também autora de várias traduções para português de obras inglesas, francesas, italianas e espanholas.

Durante as últimas duas décadas, tem-se dedicado ao estudo da literatura portuguesa e espanhola do "Siglo d'Oro", tendo publicado vários ensaios e comunicações sobre o tema em várias das mais conceituadas publicações literárias de Portugal e do estrangeiro.

Licenciada pela Universidade de Lisboa e Doutorada em Literaturas Hispânicas pela Universidade de Berkeley (U.S.A.), é actualmente Professora Catedrática de Literatura Portuguesa na Universidade Nova de Lisboa e Presidente do Instituto de Estudos Portugueses da mesma Universidade. É ainda membro da Direcção do PEN Club, de que já foi Presidente.

Referenciada, a nível poético, como um dos nomes mais importantes das vanguardas portuguesas da segunda metade do século, a sua poesia reúne fortes tendências barroquizantes e visuais que a têm já levado a um apagamento de fronteiras entre expressão poética e intervenção plástica. É esse o caso, por exemplo, de Mapas da Imaginação e da Memória (1973), bem como das várias exposições que incluem desenho, pintura e colagem, realizadas em galerias e centros de exposições, como o Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, Museu do Chiado e Fundação da Casa de Serralves, para além das participações na Bienal de Veneza e Bienal de S. Paulo (Brasil).


fonte: Ministério da Cultura e Instituto Português do Livro e da Leitura

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

GERTRUDE STEIN - qd paris era uma festa






UM POEMA DE GERTRUDE STEIN

from Before the Flowers of Friendship Faded Faded



I love my love with a v
Because it is like that
I love my love with a b
Because I am beside that
A king.
I love my love with an a
Because she is a queen
I love my love and a a is the best of them
Think well and be a king,
Think more and think again
I love my love with a dress and a hat
I love my love and not with this or with that
I love my love with a y because she is my bride
I love her with a d because she is my love beside
Thank you for being there
Nobody has to care
Thank you for being here
Because you are not there





"Quem apareceu primeiro, Gertrude Stein ou James Joyce? Não se esqueçam que o meu primeiro grande livro, «Three Lives», foi publicado em 1908. Muito antes de "Ulisses". Não nego que Joyce fez qualquer coisa mas a sua influência é apenas local. A sua hora já passou tal como aconteceu com Synge, outro escritor irlandês."





Estas linhas foram escritas por Gertrude Stein, em 1924. Apesar de ter errado em relação a James Joyce ( como aconteceu, aliás, com Virginia Woolf), a verdade é que ela tinha a perfeita noção do seu lugar de pioneira da chamada "ficção experimental" e do impacto que a sua escrita e a sua personalidade iriam ter em muitos dos seus contemporâneos e nas gerações que se seguiram






De Gertrude Stein é comum dizer-se que "descobriu " Picasso, que inventou a expressão "geração perdida", aplicada a Hemingway e Fitzgerald, que aconselhou Paul Bowles a dedicar-se à música e que se considerava um génio. Sabe-se também que possuía uma das maiores e mais ricas colecções de arte do século XX e que essas obras se encontram, agora, espalhadas por vários museus. No seu apartamento, em Paris, acotovelavam-se personagens do mundo artístico e da sociedade da época: Braque, André Masson, Tristan Tzara, Marcel Duchamp, Jean Aron, Djuna Barnes, Nancy Cunard são alguns dos nomes constantes de uma lista interminável referenciada por Linda Wagner-Martin na biografia "Favored Strangers. Gertrude Stein and her Family" (400 págs., November 1997, Rutgers University Press).

Em 1999, cento e vinte e cinco anos depois do seu nascimento, sucederam-se as manifestações de apreço, análise, recuperação da sua obra: teatro, ficção, poesia, biografia, ópera. O século passado terminava, assim, com uma "revisão da matéria" lançada aos ventos por Stein. A partir do estudo da sua obra e personalidade, noções como modernismo e pós-modernismo, etnicismo, lesbianismo, elitismo, estética, nunca mais foram as mesmas.

Gertrude Stein nasceu a 3 de Fevereiro de 1874 em Allegheny, Pennsylvania, Estados Unidos e passou a maior parte da infância entre Viena e a Califórnia. De acordo com as recordações de uma tia, "aos catorze meses andava sozinha, imitava e repetia tudo." Tinha oito anos quando começou a escrever, uma actividade que rapidamente se transformou em obsessão, tal como a leitura. As suas preferências iam para Shakespeare e para livros de História Natural. Na escola mostrou imediatamente o fascínio que sentia pela estrutura das frases.

Em 1893 entrou para o Radcliffe College mas, em 1903, instalou-se em França com o irmão, Leo, depois de ter passado por um curso de medicina na Universidade Johns Hopkins e de ter experimentado o estudo de psicologia com William James, com quem desenvolveu uma relação estreita e privilegiada ao ponto de, num belo dia de Primavera, escrever no topo da página de um exame: "Querido Professor James. Espero que me perdoe mas hoje não me apetece nada fazer um exame de filosofia."

Gertrude e Leo, munidos de uma generosa mesada facultada pelo irmão mais velho depois da morte do pai, tornaram-se rapidamente o centro da actividade cultural, em Paris. Leo era pintor e crítico de arte mas acabou por se tornar um neurótico incurável, paralisado por desordens alimentares e pela surdez, a que se juntou um "bloqueio" artístico e um ruinoso fetichismo por sapatos. Em "Sister, Brother" (Ed. Putnam) a biógrafa Brenda Wineaple traça o perfil destes dois irmãos ligados por sentimentos profundos e uma feroz interdependência, agravada pela morte da mãe quando Gertie tinha catorze anos e Leo dezasseis.

Em Paris desenvolveram uma relação estreita com Picasso e, simultaneamente, com o seu grande rival, Matisse. Braque, Van Dongen, Derain e Juan Gris, também faziam parte do círculo de amigos íntimos, sendo este ultimo o favorito de Stein. Para além de pintores o famoso n.º 27 da rue de Fleurus acolhia, regularmente, todas as semanas, a visita de Apollinaire, Max Jacob, André Salmon, Erik Satie, Jean Cocteau, Sherwood Anderson, Ernest Hemingway, Scot Fitzgerald. Gertrude gostava de reunir a sua "corte de génios", presidida por ela própria. Mas havia quem lhe resistisse como, por exemplo, James Joyce que afirmava "detestar mulheres intelectuais" e, em certa medida, Djuna Barnes, a sua rival na escrita, que preferia frequentar a companhia de Nathalie Barney e do seu grupo de lésbicas sofisticadas. Gertrude nunca gostou de Joyce, que considerava um trapaceiro, e irritava-se por ele não se vergar perante a sua forte personalidade e por não se mostrar agradecido pelo facto de ela o ter incluído no seu grupo de convidados que incluía "discípulos" obedientes como Hemingway de quem ela dizia : "Fui eu que o ensinei a escrever."

Em 1907, Stein começou a viver com Alice B. Toklas, uma amiga dos seus tempos de S. Francisco. Foi uma união muito feliz que durou todo o resto da vida da escritora ( Gertrude morreu a 27 de Junho de 1946 e Alice sobreviveu-lhe 21 anos) e que foi amplamente documentada em "Autobiografia de Alice B. Toklas", escrita pela própria Gertrude Stein, aos cinquenta e oito anos, numa altura em que decidiu afastar-se do seu estilo mais rebuscado e escrever algo simples e corriqueiro. A narrativa era-lhe, supostamente, ditada pela sua companheira por esta "estar demasiado ocupada com os problemas caseiros do dia-a-dia"

"Robinson Crusoé" de Daniel Defoe serviu de modelo para esta "autobiografia" em que Stein se divertiu a designar-se como "génio" e a descrever os detalhes mais íntimos da vida de todos os dias, com as festas, os jantares, as exposições, os amores, ódios, zangas e reconciliações de amigos, inimigos ou simples conhecidos.

Gertrude Stein afirmou que não queria que as emoções ditas "femininas" dominassem a sua vida, preferindo ser ela a dominar o mundo (daí a sua imagem iconográfica muito utilizada pelas suas admiradoras, na qual a sua cabeça, de perfil, se assemelha à de César), reproduzindo-o nos seus escritos e reprimindo sempre a eventual primazia da emoção. A única paixão permitida era reservada à escrita, uma afirmação transmitida, à sua maneira, muito peculiar, através da voz de Toklas na "Autobiografia" : "(Ela) sabe que a beleza, a música, os adornos, até mesmo acontecimentos, não deveriam ser a causa de emoção nem deveriam servir de material para poesia ou prosa. Nem mesmo a emoção per si deveria ser a causa de poesia ou prosa. Estas deveriam consistir numa reprodução exacta de uma realidade, tanto interior como exterior".

Quando Gertrude e Alice começaram a viver juntas, a primeira tinha acabado "Three Lives", um conjunto de três histórias (retratos) de três mulheres e trabalhava numa obra monumental baseada na sua própria família a que chamou " Making of Americans". O momento foi especialmente dramático porque se tinha separado definitivamente de Leo, com quem se mantinha em estado de guerra declarada por ele não apreciar os seus escritos. Zangaram-se e nunca mais se falaram. Gertrude, que fora educada por um pai tirânico, ao lutar raivosamente com o irmão que adorava, para impor a sua identidade como escritora, criava uma barreira entre ela e o "mundo masculino ". O mais interessante é que, como é possível constatar através da já referida "Autobiografia", era Stein quem assumia o papel de marido no casal, "escrevendo e discutindo arte com os homens", enquanto Alice cozinhava e tratava da casa e "se sentava a conversar sobre chapéus e roupas com as mulheres dos artistas que vinham de visita".

"Theree Lives", o estranho livro que Stein escreveu em 1905, foi concebido, segundo ela, a partir de um quadro de Cézanne que os dois irmãos tinham adquirido no inverno anterior. É a história de Anna, Lena e Melanctha, esta ultima considerada por Richard Wright como "a primeira narrativa longa e séria sobre a vida dos negros, nos Estados Unidos", onde se acumulam detalhes psicológicos e cenas da vida quotidiana que a escritora observava durante os seus passeios a pé em Montmartre,
quando ia e vinha de e para o "atelier" de Picasso, onde quase todos os dias posava para o seu famoso retrato.

A influência de Cézanne na sua obra deu origem ao seu estilo repetitivo e hipnótico e ao "cubismo na literatura" a que ela chamava o seu próprio " método de composição". Este assentava nos seguintes princípios: "...começar sempre de novo, sempre, sempre, "usar tudo" e "utilizar um presente contínuo". Em Cézanne, ela admirava a técnica a paciência e o método bem como o facto de, na composição, os detalhes terem tanta importância como o todo.

Gertrude foi uma escritora incansável. Os editores ficavam chocados com a sua pontuação, com as suas frases inacabadas que eram retomadas mais adiante, com as suas repetições. Ela dizia que tanto fora influenciada pelo cubismo como por Mark Twain o que marcava a sua relação com a cultura americana, apesar de ter vivido quase toda a vida na Europa. Em 1933, numa viagem aos Estados Unidos, durante a qual proferiu palestras e conferências, foi acolhida triunfalmente em todo o lado, chegando a ser recebida na Casa Branca com pompa e circunstância.O seu cosmopolitismo e desenraizamento contribuiram para estabelecer o mito de Paris como centro cultural de eleição para infindáveis gerações de americanos, sem nunca deixar de enaltecer as virtudes do seu país natal. Escreveu que, "...(os Estados Unidos), ao começarem a criação do século vinte nos anos sessenta do século dezanove, tornaram-se o país mais antigo do mundo".

Fisicamente, Gertrude era a típica matrona germano-americana, de corpo e traços fortes, uma figura que nada tinha de feminino. Mas o seu humor, o seu sentido de auto-estima e o seu espírito finamente irónico, aliados ao facto de ser extremamente mundana e muito "snob", faziam dela uma personagem muito atraente. Hemingway descreveu-a assim: "Mademoiselle Stein tinha uma constituição pesada, como a de uma camponesa... com uns belos olhos e um rosto germano-judeu que... fazia lembrar o das mulheres do campo do norte de Itália, com as suas roupas, o seu rosto sempre móvel e o seu adorável cabelo, espesso, vivo, como o das imigrantes. " Quanto a Alice, "uma gárgula amigável" foi descrita por Hadley Hemingway como, "...um pedaço de fio electrificado, magra e pequena, com ar de espanhola e olhos muito escuros e penetrantes." Mabel Dodge, uma amiga de Gertrude fez o seguinte comentário em relação à sua aparência: " era atraente de uma forma positiva e generosa, apesar da sua amplitude física. Parecia apreciar a sua própria gordura, uma atitude que é sempre uma ajuda, no sentido de se ser aceite por outras pessoas. Não possuía nem um traço daquele embaraço tonto que os anglo-saxónicos demonstram em relação à carne. Ela glorificava a sua."

Em "Paris é uma Festa", Hemingway conta que não foi capaz de a encarar uma vez em que teve de esperar no salão do apartamento, enquanto ouvia gemidos e suspiros, no quarto situado mesmo por cima. Só a ideia das duas damas embrenhadas num acto sexual bastante activo, fizeram-no bater em retirada. Mas Hemingway era um misógino e o seu machismo tinha de ser arvorado de uma forma óbvia que também passava pela repulsa em relação ao lesbianismo.

Virginia Woolf, Willa Cather, Colette e Gertrude Stein apresentam entre si certas semelhanças num universo romanesco em que a "sedução maternal" é o reflexo de uma visão muito feminina do universo do amor. Embora com personalidades diferentes, elas representam uma ideia de sucesso entre as "mulhers de letras". Todas elas tiveram a liberdade de produzir os seus escritos, alcançando uma enorme mestria na utilização das suas linguas maternas. Também foram capazes de disfrutar um certo conforto, ao lado de companheiros e companheiras que se preocuparam em fornecer-lhes condições para trabalharem. Todas conheceram o sucesso em vida e gozaram plenamente esse privilégio, colocando a literatura à frente de tudo. É verdade que também escreveram sobre a maternidade mas, de todas elas, só Colette teve uma criança, já quando estava na meia idade ("Je suis un écrivais qui a fait un enfant" dizia ela quando se referia ao "acidente")

Gertrude Stein foi mais do que uma senhora ( com um ar bastante masculino ) que dava óptimas festas e entretinha os seus amigos e convidados com ditos espirituosos e inteligentes, ao mesmo tempo que os deliciava com os famosos cozinhados da sua companheira. Foi uma escritora que inovou em literatura e uma importante mentora da arte moderna. Diz-se que ela fez com as palavras o que Picasso fez com as tintas. Os seus escritos "impressionistas" nos quais utilizava termos que lhe eram familiares e que lhe suscitavam uma determinada reacção, tinham como finalidade descobrir um significado oculto, a sua verdadeira natureza. Para muita gente, ela maltratou a língua inglesa, abusou dela e "desfigurou-a". A sua intenção era criar uma nova linguagem em que a qualidade do verbo deveria ser intrínseca e não o espelho de uma imagem preconcebida. É famosa a sua frase, "Rose is a rose is a rose", na qual ela condensou toda a sua teoria: o sentido deveria surgir a partir da entoação do conjunto de palavras, fazendo emergir, do subconsciente, o significado perfeito até aí mergulhado nos recônditos da mente.

Gertrude Stein tem sido utilizada como ícone de grupos homossexuais. Um dos seu primeiros livros "Q.E.D." (Quod Erat Demonstrandum) ou "Things As They Are", que ela escondeu e fingiu ter esquecido durante anos, contava a história de um triângulo amoroso formado por três mulheres , uma das quais era uma imagem decalcada de si própria, no tempo em que estudava Medicina. Aliás, os seus biógrafos estão convencidos que a sua desisitência do curso na John Hopkins University ficou a dever-se às agruras de uma paixão e não, como ela disse, ao facto de se "aborrecer mortalmente".

O facto de mais tarde, em Paris, fazer questão de demonstrar abertamente que desafiava as convenções, contribuiu para uma admiração por parte das comunidades homossexuais. A sua qualidade de judia tão pouco a marcou com sinais de exclusão. Durante a Primeira Grande Guerra, tanto ela como Alice fizeram questão de ficar em Paris. Compraram um Ford em muito mau estado, a que chamaram "Auntie" e usaram-no para ajudar a Cruz Vermelha e transportar feridos para a província. Durante a Segunda Grande Guerra trabalharam para a Resistência, conseguindo que os ocupantes nazis nunca descobrissem que eram judias.

A imagem de Gertrude Stein ficará sempre associada ao retrato que Picasso fez dela: uma forma mais ligada à escultura do que à pintura, uma figura sólida, maciça, que nos olha com o ar remoto de um monge tibetano. A sua forte personalidade marcou indestrutivelmente todos os que com ela privaram. Adorava a escrita, acima de tudo (seguiam-se, na ordem dos seus afectos, Alice e os seus dois cães, Pépé e Basket) e procurou transformar o romance e a linguagem do século XX da mesma forma e com o mesmo génio que o seu amigo Picasso, em relação às artes visuais.

Morreu a 27 de Junho de 1946 e foi enterrada no cemitério Père Lachaise, em Paris. Dias antes, na cama do hospital onde estava internada, perguntara a Alice: "Qual é a resposta?" E, uma vez que a companheira não lhe respondeu, insistiu. " Então, qual é a pergunta?!". O seu humor e o seu génio permaneceram intactos até ao fim.





por Helena Vasconcelos in storm magazine

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Técnicas para melhor te beijar





Um beijo acordou a Bela Adormecida e libertou o príncipe encantado feito sapo. A ficção baseou-se no real para transmitir a imagem do beijo: mágico!
Beijar é uma arte e o mundo das artes sabe disso. Pintura, escultura, poesia, cinema, literatura, música. Já todos, sem excepção, retrataram o beijo nas diversas expressões artísticas transmitindo, quase sempre, uma imagem de beleza e magia. Não é por acaso que o gesto teve um papel determinante nas fábulas de encantar: a Bela Adormecida é acordada com um beijo e é um beijo que liberta o príncipe encantado do corpo de um sapo e o atira para os braços da princesa apaixonada.
Outro dos beijos mais famosos do mundo, está representado na escultura de Rodin "O beijo", presente no Museu Rodin de Paris. Nesta obra-prima estão retratados dois amantes, sentados numa rocha, envolvidos num abraço apaixonado e os lábios colados num beijo eterno. A escultura sublinha cada músculo entesado e sobressaem as mãos que, de forma meiga e terna, acariciam o corpo do outro nu, entregues e afundados no mais belo de todos os desejos.
Por ser uma fonte profunda de expressão de sentimentos, o beijo também encerra a ideia de perigo pois desperta o amor. É um lugar comum que as prostitutas não beijam na boca para evitar uma aproximação amorosa com os clientes. Há mais de dois mil anos, na Grécia antiga eram temidas as consequências de um simples beijo. O autor grego Xenofonte, discípulo de Sócrates, refere no livro Ditos e Feitos Memoráveis de Sócrates que chegou a aconselhar o mestre a dissertar sobre este assunto. Afirmava que o beijo de um jovem é mais perigoso que a picada de um tarântula venenosa. Tudo porque, o contacto dos lábios com uma pessoa mais nova reduz, instantaneamente, à escravidão aqueles que se aventuram em tão arrojado gesto.
O beijo é também uma demonstração de afecto universal. Tanto assinala um sentimento de amor como de conquista. Quando o desportista vence uma prova beija a taça ou a medalha como sinal de vitória. Quando a mãe beija, ternamente, o filho, demonstra-lhe o seu amor incondicional.



O que é o beijo?


A dança é uma das melhores metáforas para definir um beijo. Além de contar com a harmonia dos participantes exige passos sincronizados. Para ser perfeito, o beijo exige uma perfeita coordenação de músculos, lábios e língua. Além disso, a boca é uma zona erógena por excelência. O lábio superior indica sensibilidade e o inferior é sinónimo de sensualidade e sexualidade. Além das endomorfinas o beijo desperta também os instintos da atracção sexual. Mais: tanto o beijo como o sexo oral recordam, embora de forma inconsciente, o acto da amamentação.
Existem determinadas zonas erógenas onde um beijo é capaz de acordar o mais adormecido dos espiritos. Entre eles: o pescoço, lóbulo da orelha, nuca, umbigo, orgãos genitais, axilas, peito e pescoço.



Beijo termómetro


Ao que tudo indica, o beijo é um bom indicador do estado de uma relação. É equiparável a um termómetro, pois possui a capacidade de medir o grau de afecto entre um casal. Trata-se da primeira manifestação de afecto que fica de lado, quando uma relação entra em decadência, enquanto o sexo ainda consegue resistir durante mais algum tempo. A demonstração de carinho através de beijos no rosto demonstra o quanto duas pessoas se amam e querem. Quando esses sinais diminuem de intensidade significa que a relação está a deteorar-se e precisa de ser revista. Isto é mais comum quando um casal, após alguns anos de casamento, perde o encanto mútuo.



Aprende a perder calorias com os beijos do Kama Sutra e sabe como na Rússia o beijo se transformou em honra militar


Além dos benefícios evidentes que emanam do simples acto de beijar, um beijo é também considerado um óptimo exercício para perder calorias e ajudar a ficar em forma.
Não acreditas? Uma manifestação ternurenta deste género pode implicar uma perda de calorias (entre 12 e 15), já que envolve a participação de 29 músculos diferentes. Só 17 são da língua.
O bem estar físico é outro aspecto importante. O acto de beijar faz com que que o organismo liberte substâncias importantes para a saúde, como o caso das endomorfinas. Tratam-se de elementos que provocam uma sensação de bem estar físico, emocional e um relaxamento generalizado de todo o corpo.



A origem do beijo


Teorias há várias, mas alguns especialistas avançam com explicações, que remontam à Pré-História. O beijo evoluiu do acto de cheirar o rosto de alguém, para o suave toque entre os lábios, sinal silencioso utilizado para sentir a identidade do outro. Para os povos primitivos, o ar quente expelido pela boca era entendido como a incorporação da alma. Assim, o beijo entre duas pessoas representava a forma de fundir duas almas.



O beijo no mundo


O beijo é encarado de formas distintas nas diferentes culturas. Actualmente ou em tempos mais remotos, entre homens, amigos ou casais, o modo de beijar e o significado do íntimo toque de lábios varia de acordo com as mentalidades e os significados históricos.

Entre homens

Brasil: quando dois homens se beijam são imediatamente apontados como homossexuais. O contacto físico não deve ir além do abraço.

Rússia: por aqui é perfeitamente normal que dois homens se beijem na boca. Antigamente poupava-se nas medalhas quando havia necessidade de distinguir alguém. Um beijo do czar era entendido como uma forma clara de reconhecimento oficial.

Argentina e Itália: é vulgar a saudação entre homens com troca de beijinhos no rosto.

Entre amigos

Japão: os amigos japoneses demonstram empatia e amizade mútua através de palavras ou gestos. Os beijos não são uma atitude comum ou considerada normal.

França: Já que Paris é a capital romântica por excelência, em França os beijos são a quatriplicar: quatro beijos em cada bochecha, dados alternadamente.

EUA: também os americanos não apreciam o gesto de cumprimentar um amigo com um beijo. Mas na relação entre pai e filho esta manifestação é indispensável.

Entre casais

Escócia: antigamente,após a celebração de uma cerimónia de casamento, em vez do tradicional beijo do noivo na noiva, era o padre quem selava o compromisso e beijava a nubente nos lábios. Embora pareça anedota, acreditava-se, plenamente, que a felicidade do futuro casal, dependia dessa benção. Mas o ritual não ficava por aqui. Como forma de garantir a felicidade eterna do laço matrimonial, ainda durante a boda, a noiva tinha de beijar a boca de todos os convidados homens, que em forma de agradecimento lhe davam dinheiro. Os noivos da época tinham o espírito muito aberto.

Itália: no século XV, se um homem beijasse uma mulher em público não havia recuo: tinha que casar com ela.

Japão: já os japoneses não se atrevem a beijar em público, pois o gesto é considerado obsceno. Uma das explicações pode residir no facto de que a tradução do termo "beijo" em japonês significa "chupar a língua". Até os casais com a sua relação mais que assumida têm que ser discretos.

África: algumas tribos africanas consideram natural tomar banho juntas nuas. O que já não é normal é que o beijo seja dado em público, pois é considerado promíscuo e indecente.

Polinésia: os polínésios substituem o beijo na boca pela troca de carinhos através dos narizes.



Inimigos do beijo


O nervosismo e o stress não são bons aliados dos momentos mais íntimos, e o beijo não é excepção. Principalmente quando se trata do primeiro beijo, tão sonhado entre os adolescentes. Reveste-se de uma importância especial e é aguardado com alguma ansiedade. Se é o seu caso, mantenha-se calma e procure um lugar solitário, longe de tudo e todos, especialmente das pessoas chatas capazes de perturbar a magia do momento.

• Evite salivar em demasia ou realizar movimentos exagerados com a língua.
• De olhos bem fechados. Algumas pessoas sentem-se inseguras quando são beijados pelo par com os olhos abertos. O sinal é interpretado como uma manifestação de distanciamento em relação ao momento.
• Exagerar no perfume ou em batons. Mesmo que use um batom com sabores, a outra pessoa sente-se incomodada com o excesso da substância nos lábios.
• Aparelho nos dentes. Se possui uma prótese dentária preste especial atenção aos movimentos feitos com a boca. Tudo porque os gestos bruscos podem fazer com que o aparelho se prenda à boca do parceiro, magoando-o inevitavelmente.
• Cuidado para não bater violentamente com os dentes nos dentes da outra pessoa. Pretende-se um momento ternurento e não motivo para sair disparada até à cadeira do dentista.
• Mau hálito: livre-se dele rapidamente. É desagradável e interfere na magia do beijo. Existem alguns factores que causam o mau hálito. Entre eles: restos de comida entre os dentes; ingestão de alimentos que agravam o problema (por exemplo: cebola, alho, repolho, bróculos, café, batatas fritas e bacon); bebidas alcóolicas e cigarros.


Ajudas

Aumente os cuidados de higiene.
Escove os dentes com frequência e bem.
As pastilhas de hortelã ou menta são um auxílio precioso.



Beijos do Kama Sutra


O Kama Sutra é por excelência o livro do amor. A obra sublinha tudo o que diz respeito à activação dos cinco sentidos: visão, tacto, audição, olfacto, paladar. O beijo é, irremediavelmente, um dos gestos tratados nesta edição mítica. Aqui são eleitos quatro tipos:

Beijo inclinado: ambos os elementos do casal inclinam a cabeça em sintonia até conseguirem beijar-se. Procura-se um contacto labial intenso.

Beijo lateral: um dos elementos vira a face do outro segurando-a pela cabeça ou queixo.

Beijo pressionado: neste caso o lábio inferior é pressionado com energia.

Beijo directo: quando os lábios dos amantes entram em contacto directo e não há penetração da lingua. É o beijo mais indicado, em situações, onde ainda não existe grande intimidade entre casais.