sexta-feira, janeiro 26, 2007





Sou feliz só por preguiça.

A infelicidade dá uma trabalheira pior que doença:

é preciso entrar e sair dela,

afastar os que nos querem consolar;

aceitar pêsames por uma porção da alma

que nem chegou a falecer.





Mia Couto

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terça-feira, janeiro 23, 2007

mas dói-me o corpo todo e não tenho cabeça para trabalhar...

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Fiama Hasse Pais Brandão



Amor é o olhar total, que nunca pode

ser cantado nos poemas ou na música,

porque é tão-só próprio e bastante,

em si mesmo absoluto táctil,

que me cega, como a chuva cai

na minha cara, de faces nuas,

oferecidas sempre à àgua.







Fotografia de Luísa Ferreira/Casa Fernando Pessoa.





“Fiama Hasse Pais Brandão ficará para a história da literatura portuguesa como uma autora multifacetada, cuja extensa obra lhe valeu diversos prémios.”

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quinta-feira, janeiro 18, 2007




O ínico foi do fim nunca do próprio início quando tu serenamente mexias o café fazendo círculos geometricamente perfeitos e a tua mão não saía do teu joelho. Olhavas para a espuma do café, perdias nela o teu olhar inquiteto e o teu sorriso vesciral.



A minha presença era mais uma ausência.



Invejei ser a espuma de um café.



As palavras eram de silêncio.



Os gestos viciados.



Os sentimentos armazenados num baú perdido.




A conta veio pela mão do empregado mas o teu olhar já tinha
saído à muito tempo e pagei eu a conta.


Não era muito dinheiro mas era daquele café que não era eu mas a espuma do teu olhar.



Não tinha dinheiro comigo nem o teu nem o meu sorriso.



Não foi preciso o corpo para pagar.



Só um pedaço do meu coração.



Saí para a rua e perdi-me nos paralelos da cidade.

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quarta-feira, janeiro 17, 2007




Antes o vôo da ave, que passa e não deixa rasto,
Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão.
A ave passa e esquece, e assim deve ser.
O animal, onde já não está e por isso de nada serve,
Mostra que já esteve, o que não serve para nada



A recordação é uma traição à Natureza,
Porque a Natureza de ontem não é Natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.
Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!


Alberto Caeiro

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terça-feira, janeiro 16, 2007

O Tempo é de Medo by Heloísa






segunda-feira, janeiro 15, 2007

Desilusão






Desilusão é uma parte integrante do meu dia a dia!

Alegramo-nos por saber que a família é aquela que em principio estará lá sempre e nunca nos desiludirá, mas essa é uma certeza ou uma sensação que já não tenho. Tenho a certeza que não há elemento da minha esfera de conhecimento que não me tenha, por maior ou menor que seja a razão, desiludido.

As pessoas não são aquilo que esperamos delas, são o que são e teremos, se quisermos, de gostar delas tal e qual como são, como aprenderam a ser ou como a vida fez com que elas fossem.

Li uma vez que as pessoas nunca mudam verdadeiramente, podem adaptar-se e moldar-se à vida e ao mundo mas no fundo são aquelas mesmas pessoas que sempre foram! Será que é pecado esperar das pessoas, esperar atitudes, sentimentos, considerações? Ou o único inconveniente é mesmo só nosso, já que é certo que essas mesmas pessoas não irão com certeza agir como esperamos que elas ajam! Será que para diminuir a desilusão que sentimos dependemos apenas de nós e da visão que temos do mundo e das pessoas, as vezes é uma visão um pouco romântica e demasiado cinematográfica?! Devemos vê-las apenas como aquilo que realmente são e não aquilo que queremos que elas sejam?!

A imagem de pessoas perfeitas tem que acabar, não existe perfeição como um todo, apenas um visão particular de perfeição que pode ser a nossa mas não a da pessoa que esta ao nosso lado. Somos diferentes e, ou nos respeitamos nessa mesma diferença, ou então o mundo e as relações não valem a pena! Aprender connosco e aprender com os outros. Que a nossa perfeição seja parte da perfeição dos outros e que a dos outros venham como mais valia para nós e nos faça sermos melhores como pessoas e seres humanos.

Aprender a respeitar a diferença, aquilo que não é o que acreditamos mas é na realidade o que outros acreditam!

Crescer é uma parte fundamental do ser humano, ter a capacidade de pensar e de com esse pensamento evoluir é fantástico! As vezes é preciso cair mil vezes, só para que se tenha a noção que se pode e se consegue ‘levantar’ e, mesmo com o orgulho ferido, levantar a cabeça devagar e caminhar com esperança no futuro porque no fim de tudo a queda não foi apenas uma queda, foi apenas mais um degrau que se subiu nesta grande escada que é a vida.

Não me considerem uma rapariga demasiado profunda nem com a mania que tem uma veia poética, vejam me apenas como uma rapariga de quase 25 anos que tem duvidas sobre a vida, sobre as relações humanas mas que no fundo gosta mesmo de parar para pensar e tentar entender aquilo que não entende, mesmo que isso se venha a revelar uma mágoa! É mesmo só isso...


Margarida Rebelo Pinto

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sábado, janeiro 13, 2007




Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mão à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.


Eugénio de Andrade

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sexta-feira, janeiro 12, 2007

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quinta-feira, janeiro 11, 2007

Mulher





Não quero uma mulher
Que seja gorda ou magra
Ou alta ou baixa
Ou isto e aquilo.



Não quero uma mulher
Mas sim um porto, uma esquina
Onde virar a vida e olhá-la
De dentro para fora.



Não espero uma mulher
Mas um barco que me navegue
Uma tempestade que me aflija
Uma sensualidade que me altere
Uma serenidade que me nine.



Não sonho uma mulher
Mas um grito de prazer
Saindo da boca pendurada
No rosto emoldurado
No corpo que se apoie
Nas pernas que me abracem.



Não sonho nem espero
Nem quero uma mulher
Mas exijo aos meus devaneios
Que encontrem a única
Que quero sonho e espero
Não uma, mas ela.



E sei onde se esconde
E conheço-lhe as senhas
Que a definem. O sexo
Ardente, a volúpia estridente
A carência do espasmo
O Amor com o dedo no gatilho.



Só quero essa mulher
Com todos seus desertos
Onde descansar a minha pele
Exausta e a minha boca sedenta
E a minha vontade faminta
E a minha urgência aflita
E a minha lágrima austera
E a minha ternura eloquente.



Sim, essa mulher que me excite
Os vinte e nove sentidos
A única a saber
O que dizer
Como fazer
Quando parar
Onde Esperar.



Essa a mulher que espero
E não espero
Que quero e não quero
Essa mulherportoesquina
Que desejo e não desejo
Que outro a tenha.



Que seja alta ou baixa
Isto ou aquilo
Mas que seja ela
Aquela que seja minha
E eu seja dela
Que seja eu e ela
Euela eu lá nela
Que sejamos ela.



E eu então terei encontrado
A mulher que não procuro
O barco, a esquina, Você.
Sim, você, que espreita
Do outro lado da esquina, no cais,
A chegada do marinheiro
Como quem apenas me espera.



Então nos amarraremos sem vergonha
À luz dos holofotes dos teus olhos,
E procriaremos gritos e gemidos
Que iluminarão todas as esquinas.



Será o momento de dizer
Achei/achamos amei/amamos
E por primeira vez vocalizar o
Somos, pluralizando-nos
Na emoção do encontro.



Essa a mulher
que não procuro
nem espero.
Você, viu? Você!






Bruno Kampel

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quarta-feira, janeiro 10, 2007

Amar é sofrer





Tem gente que ama que vive brigando,
E depois que briga acaba voltando.
Tem gente que canta porque está amando,
Quem não tem amor leva a vida esperando,
Uns andam para a frente e nunca se esquecem,
Mas são tão pouquinhos que nem aparecem.
Tem uns que são fracos e dão pra beber,
Outros fazem samba e adoram sofrer.
Tem apaixonado que faz serenata,
Tem amor de raça e amor vira-lata.
Amor com champagne amor com cachaça,
Amor nos iates nos bancos de praça.
Tem homem que briga pela bem amada,
Tem mulher maluca que adora pancada.
Tem quem ama tanto que até enlouquece,
Tem quem dê a vida por quem não merece.
Amores à vista, amores a prazo,
Amor ciumento que só cria caso.
Tem gente que jura sabendo que não é capaz.
Tem gente que escreve até poesia
E rima saudade com hipocrisia.
Tem assunto à beça para a gente falar,
Mas não interessa o negócio é amar.



Dolores Duran, 1959

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terça-feira, janeiro 09, 2007




Would you hold my hand



If I saw you in heaven



Would you help me stand



If I saw you in heaven



I'll find my way, through night and day



Cause I know I just can't stay



Here in heaven

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segunda-feira, janeiro 08, 2007




"Num deserto sem água,



numa noite sem lua,



numa terra nua,



por maior que seja o desespero,



nenhuma ausência é mais profunda que a tua!"



(Sophia de Mello Breyner Andresen)

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domingo, janeiro 07, 2007



O corpo é a prisão da alma...




já Platão dizia...




nem sempre a prisão mais bonita...




quando a beleza não atinge ambos os patamares




ficas a perder...

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sábado, janeiro 06, 2007

Sinto-me...

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segunda-feira, janeiro 01, 2007


Não podia deixar de entrar neste novo ano sem vos agradecer toda alegria que me têm trazido até agora...